A religiosidade é uma das mais
antigas manifestações do homem. Sempre, de alguma forma, ele tem procurado
unir-se aos preceitos religiosos com a razão, porém, em alguns momentos, como
acontece também em outras áreas, indica distúrbios e oferece perigo não só para
uma pessoa ou um religioso, mas para como toda uma sociedade.
Foi o que
aconteceu com um homem portador do vírus da AIDS, iludido com a cura
médica/espiritual, abandonado o tratamento médico em nome da cura pela fé. Conforme os autos do processo, o
soropositivo ainda teria sido levado a se relacionar sexualmente com a sua esposa sem
uso de preservativo ou quaisquer tipo de proteção, como prova de fé, acabando
por transmitir-lhe o vírus, e a ceder bens materiais para a igreja, tudo em
nome da fé!
É um absurdo que as religiões
possam ter tomado tamanha influencia não só na cabeça de um ser, mas em todo o
Brasil. A força religiosa exerce sobre o comportamento e pensamento de seus
rebanhos, e principalmente, ao constatar no perigo em que se tornam quando a
religiosidade se torna um buraco vazio que a pessoa tem dentro de si, repleto
apena de insegurança e medo, e que ele procura preencher de uma maneira
desequilibrada.
Quando suas crenças passam a ser
tão importantes para a sua sobrevivência quanto a sua razão, uma vez que são os
pilares que sustentam, que ele tem com vigor e paixão, qualquer questionamento
que ameace de destruição.
A pessoa não quer pensar, nem
quer ser induzida a fazê-lo. Ela crê e defende sua crença como um leão e
acredita e despreza aqueles que dela não compartilham.
O fanatismo, além de ser um
processo de alienação, na importância social da religião, na sua capacidade de
aglutinação e como, na história multe milenar do homem, tem servido de conforto
e esperança nos momentos de vulnerabilidade dos que nela têm fé.
A capacidade de se aproveitar da
extrema fragilidade e vulnerabilidade em que se encontrava o fiel, para não só
obter dele vantagens materiais, mas também abusar da confiança e da esperança
em que ele tivera, em tal estado, depositada nas mensagens de fé avassaladoras
de sua vida.
É de saber que, qualquer pessoa
em um estado de fragilidade mental ou psicológica, tem a facilidade de ser
levado pela conversa de quaisquer maus-caracteres que lhes traz uma mensagem de
esperança, mas devemos nos ater à realidade e colocarmos a responsabilidade dos
atos irresponsáveis dessas pessoas.
Antes que digam que foi uma
decisão unânime do cidadão em deixar o tratamento médico (alguns diriam: “Ele
deixou por que quis!”), os laudos médicos e depoimentos do psicólogo são provas
nos autos de que o abandono do tratamento pelo paciente se deu a partir do
inicio das visitas aos cultos religiosos. Esse fato, somado a outras provas,
como testemunhas e matérias jornalísticas pregando a cura da AIDS pela Fé,
convenceram o magistrado sobre a atuação decisiva da igreja (em que me atenho a
não escrever o nome) no sentido de direcionar a escolha.
A religiosidade e a fé é algo
muito bom quando nos levam ao equilíbrio e ao desenvolvimento racional, a
abertura para o outro, a complacência, o amor, o acolhimento, a generosidade, a
compaixão e o respeito, sendo o fanatismo uma arma incondicional, exaltada e
completamente isenta de espírito critico.
Segundo as palavras do relator:
“o fanatismo reside no fato de ter se aproveitado da extrema fragilidade e
vulnerabilidade em que se encontrava o autor, para não só obter dele vantagens
materiais, mas também abusar da confiança que ele, em tal estado, depositava
nas mensagens da Fé”
Além do mais, continua sabiamente
o relator: “Pessoa ou instituição que tem conhecimento de sua influencia na
vida de pessoas que a tem em alta consideração, deve sopesar com extrema
cautela as orientações que passa aqueles que provavelmente os seguirão”
Devemos estar alertas, policiando
nossas emoções, para que não deixemos nos envolver por sentimentos de
intolerância e não coloquemos as nossas paixões no lugar das razões. Não
podemos e não devemos ficar tão obcecados pelas “nossas verdades”, que não damos
ouvidos as nossas razões. Isso é o perigo de o fanatismo sobressair à razão!
Dr. Adilson Gomes Filho (Recife/PE)
Publicado originalmente em: JusBrasil
http://agnfilho.jusbrasil.com.br/artigos/231240146/e-quando-o-fanatismo-sobressai-a-razao
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